Requalificação do espaço urbano


Dentro de um pensamento crítico sobre a construção da cidade contemporânea, pode-se inferir que os vazios urbanos e arquitetônicos junto às dinâmicas promovem reflexões aos olhos atentos dos habitantes que se propõem a raciocinar sobre as problemáticas e potencialidades. A pergunta “Cidade para quem?” ecoa fatalmente em muitas reformas, despejos e planos de desenvolvimento abrangendo desde a escala urbana, até a implantação de projetos que deveriam sanar o déficit habitacional.

Através de um estudo sobre o contexto do bairro, ou da comunidade, seria fácil promover uma ação participativa com relação às necessidades apresentadas pela população local, aprimorando as soluções acerca da identidade local, fazendo com que as pessoas tomem conta do que lhes é oferecido já que há uma identificação com o espaço proposto. O que acontece hoje em dia é a negação dessa realidade em detrimento da livre especulação imobiliária, das operações urbanas que visam o lucro das grandes empreiteiras, e das obras públicas superfaturadas com um estudo de impacto pífio que viabiliza os fins justificando os meios.

Na contra corrente dessa realidade atual sobre o planejamento urbano em prol do capital, da arquitetura do espetáculo e da arquitetura individualista, existem movimentos sociais que através de intervenções nas macro e micro escalas, conseguem contestar o modus operandi em relação ao desenvolvimento social. As intervenções passam por percepções como a Deriva, termo cunhado por Guy Debord no situacionismo, passando por ações artísticas e efêmeras como as do grupo Poro, até as lutas constantes dos movimentos de ocupação de áreas residuais e reestruturação de direitos urbanos, como o MTST, Brigadas populares, Tarifa Zero dentre outros.


Pode-se dizer, então, que há possibilidades sendo explicitadas por coletivos, ONG’s, Movimentos populares e pelas próprias comunidades, via autoconstrução do espaço e autodeterminação enquanto vetores fortes de mudança nas cidades. Tudo isso conflui para uma nova noção sobre o que é espaço público, criando uma esfera participativa na construção da cidade e aumentando a noção de pertencimento, tendo em vista que aqui no Brasil o público ao invés de ser de todos, não pertence a ninguém.


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Grupo: Túlio Colombo, Mirella Orsi, Rebecca Wright e Marina Drumond.


Comentários

  1. Ao ler o texto acima, comecei a refletir sobre as modificações nos últimos anos da minha cidade natal (Rio de Janeiro) e balancear as alterações, Concordo com o posicionamento do grupo e enfatizo que muitas implantações de edificações públicas parecem ser feitas sem um total planejamento urbano, tendo uma incoerência com o meio e, por vezes, criando novos ônus ao invés de solucionar problemas já existentes no local.

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  2. É interessante perceber que tal relação de descaso com o espaço público está intrinceco em nossa sociedade, o sentimento de posse é maior que a vontade de se obter melhorias coletivas. Mesmo com muitas novas formas de pensar, novas maneiras de governar, nosso país ainda sofre com o individualismo exacerbado e recorrente, um dos últimos exemplos disso é a reivendicação de moradores da elite paulista, divulgada pelo jornal Estado de São Paulo no link http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,moradores-de-areas-nobres-da-capital-acionam-mp-contra-ciclovias-de-haddad,1603212, que entraram com uma ação no Ministério Público Estadual para que a ciclovia não passe em suas ruas, alegando que por pagarem o IPTU tão alto deveriam ter o privilégio de estacionar seus carros na rua. Nos perguntamos então, pessoas com tais tipos de pensamentos só existem ali? Não, elas são apenas uma representação de uma grande parcela de nossa sociedade, que sempre reclama, mas que jamais tomará alguma atitude para ajudar a melhorar nossas espaços públicos; o país. Defender que esse tipo de transporte “só na Europa funcionam” ou que “Quem anda de bicicleta não presta” só demonstra a alienação vivida por tais pessoas. São individualistas, egoístas que não querem e nem pretendem ver a requalificação do espaço urbano, estão pouco preocupadas com os sem teto, com questões imobiliárias, transporte público; afinal “se preocupar com tudo isso para quê”?! Ironismo à parte é importante perceber as mudanças que veem ocorrendo em nossas cidades, as lutas que antes eram apenas bandeiras sendo feitas e espero que um dia a população ao menos compreenda o coletivo, só assim, sendo menos egocentricos poderemos requalificar cidades e principalmente o pensamento retrógrado de uma elite brasileira.

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  3. A requalificação de espaços públicos favorece o uso pela comunidade, estimulando práticas ao ar livre e melhor qualidade de vida. A preocupação dos órgãos públicos com obras que minimizem o caos no trânsito e a violência urbana deveria ser uma constante, pois está comprovado que ações dessa natureza são bem aceitas pelos usuários e diminuem os gastos público em ações oriundas da marginalização de determinados grupos sociais.
    Uma obra como a do Complexo de Manguinhos devolve a dignidade das pessoas que habitam aquela área a partir do momento em que elas se sentem parte do espaço que habitam e desenvolvem o sentimento de pertencimento para com ele.
    A importância dada ao transporte coletivo de qualidade (trem) e abertura de ciclovias estimula a locomoção por outros meios menos poluentes e menos onerosos, que poderá ser sentido em outras regiões da cidade, aquelas que antes sofriam com os efeitos em cadeia advindos da região revitalizada.
    O investimento é de grande vulto, mas traz resultados que poderão fazer toda a diferença na educação e moradia daquela região a logo prazo, se bem gerenciado. A reorganização planejada de espaços urbanos evita a migração de determinados grupos para áreas mais distantes e consideradas mais seguras, bem como todos os efeitos provenientes dessa postura como intensificação dos congestionamentos e segregação urbana.

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