É possível construir boa arquitetura a partir de projetos padrão?
No momento em que está se difundindo pelo
Brasil a construção padrão por meio do “Minha casa minha vida”, projeto
habitacional do Governo Federal, nos indagamos se é possível construir boa
arquitetura a partir de projetos padrão. A revista Arquitetura e
Urbanismo, na edição Ano 29, no 242 de maio de 2014, traz tal
discussão. Ela apresenta um histórico dessas construções e a opinião de alguns
arquitetos sobre este controverso tema.
Em 1982, Oscar Niemeyer criou os
projetos-padrão dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), cuja
produção atingiu mais de quinhentas unidades e o tempo gasto em cada construção
ficava em torno de cinco meses. Outro grande nome da arquitetura brasileira, Lelé, construiu pela repetição obras
singulares como os hospitais da rede Sarah e passarelas padronizadas que se
tornaram marcos urbanos em Salvador.
Tentando responder se os
projetos-padrão podem conseguir atender bem os usuários e se adaptar ao terreno
e ao contexto segue um resumo da opinião de alguns arquitetos:
Frederico Bernis, do M3
arquitetura: “Sim, é possível produzir boa arquitetura a partir de
projetos-padrão. Só não é fácil (...) Para tanto, o arquiteto precisa abrir mão
do velho hábito de conceber o edifício como escultura, obra integra e
irretocável (...) a tarefa do arquiteto não é pensar num edifício, mas num
sistema.”
Maria Teresa Diniz,
coordenadora-executiva do USP Cidades: “A arquitetura, por definição, não pode
ser padronizada. Ao transformarmos um projeto de arquitetura num padrão, ele
deixa de ser projeto e passa a ser produto (...) Racional e desejável seria
categorizar e padronizar boas soluções e diretrizes, não o projeto.”
Carlos Alberto Maciel, sócio do
escritório Arquitetos Associados e professor na Escola de Arquitetura da UFMG:
“Talvez. O maior problema dos projetos-padrão é a determinação excessiva, sem
margem para transformação, crescimento ou ajustes relacionados ao contexto.
Melhor pensar em sistemas-padrão, nos quais o ganho da repetição acorra na
industrialização de componentes com coordenação modular...”
Percebemos que, embora a resposta
dos três arquitetos sejam diversas, variando entre sim, não e talvez, a
restrição a tais projetos é latente, sendo proposta, geralmente, a padronização
de componentes e não do projeto. Problemas como a não previsão de crescimento
ou ajustes são as falhas recorrentemente apontadas e também observadas nos
projetos do “Minha casa minha vida”, mostrando que a construção de
projetos-padrão é polêmica e que, só atenderá ao seu fim se for pensada para a
grande diversidade de usos e usuários e estarem abertas a intervenções e mesmo
assim provavelmente haverá muitas falhas.
Link de referência:
Grupo: Ana Cristina Mendes, Eliane Miranda, Fernando Silvano e Sérgley de Matos Neves
A construção de conjuntos habitacionais foi de fato uma grande solução encontrada para os problemas dos séc. XIX e XX (e permanece nos dias de hoje) se tratando de uma época de grande adensamento demográfico mediante a grande oferta de emprego nas indústrias. Porem a especulação imobiliária padronizou suas medidas e construções em busca de conquistar um maior rendimento,com isso passaram a construir em massa (o que não foge muito dos dias atuais). Porem, a arquitetura deve se atentar para as necessidades individuais e não se esquecer da particularidade de cada local a ser construído, cada terreno, clima, costumes e cultura de determinada população que irá abrigar, e não deixar que o projeto vire um simples produto como a coordenadora-executiva do USP Cidades Maria Tereza Diniz citou acima.
ResponderExcluirA boa arquitetura em projetos padrão é possível, mas torna-se um trabalho complexo. Cabe aos arquitetos pensar nas diferentes variáveis para desenvolver esse tipo de projeto. Localização dos lotes, orçamento, métodos construtivos e principalmente o perfil do morador. Acredito que o desenvolvimento de plantas “livres” é um ponto de partida para a fuga das determinações excessivas dos projetos em questão. Um ótimo exemplo é o projeto Quinta Monroy, no Chile, que é de interesse social. Uma obra com recursos escassos, mas com desenho arquitetônico que permite a valorização da habitação e uma estética desenvolvida pelos moradores.
ResponderExcluirUm projeto arquitetônico deve inicialmente atender aos padrões do cliente. Acho muito complicado aplicar um projeto padrão para várias pessoas sendo que cada família possui uma necessidade específica. Concordo com o que a Maria Cecilia disse no comentário acima, este tipo de projeto já foi uma grande jogada para uma época passada. Acho que pela facilidade de reprodutibilidade, falando em questões econômicas, as grandes empreiteiras tem investido pesado neste tipo de edificação, o que enriquece e muito estas incorporações.
ResponderExcluirNo entanto, muitas pessoas, com o sonho da casa própria acabam por se submeter a aceitar este tipo de projeto.
A frase de Frederico Bernis é provavelmente a chave para obter boa arquitetura a partir de projetos padrão. Tratar arquitetura como obra de arte e intocável não funciona em grande escala pela diversidade de usuários e microculturas que se pretende abrigar, pois o projeto não incorpora nenhuma característica que provoque identificação. A adaptação de princípios como os de Habraken e Lucien Kroll para que a participação ocorra após ocupação pode ser uma boa solução, criando projetos como a Quinta Monroy e suas derivações do escritório chileno Elemental, completos em si, mas que preveem e permitem mutabilidade e transformação, se adequando ao local e ao seu tempo como o usuário optar.
ResponderExcluirO texto traz uma discussão importante e que abre portas para inúmeras opiniões e contraposições.
ResponderExcluirSou a favor de uma arquitetura social, mas que além de social ela seja também individual.
Na maior parte das vezes não há boa arquitetura em projetos padrões, mas pode haver boa arquitetura em módulos padrões, como foi dito por alguns arquitetos citados acima, que sejam utilizados e repetidos para melhor atender ao núcleo que usufrui do espaço.
Todo sistema está suscetível ao erro, porém é possível que com um projeto bem solucionado esses erros sejam reduzidos ao mínimo e que a arquitetura proporcione segurança, saúde e bem estar, além de atender as necessidades.
Quando pensamos em projeto-padrão para construção de conjunto habitacionais logo imaginamos espaços que se repetem de forma monótona, rígida e inflexível. Porém o conceito “padrão” vem se modificando ao longo do tempo, principalmente depois do movimento moderno. Desde a década de 1970, já no período pós-moderno, muitas teorias vem sendo desenvolvidas com o objetivo de usar estruturas padronizadas afim de uma arquitetura econômica, flexível, de fácil e rápida execução e que atenda os moradores de forma igualitária. Como exemplo podemos mencionar a “teoria dos suportes” do indonésio John Habraken, que defende o uso da estrutura independente da vedação. Assim, tanto a estrutura física (viga, pilar e laje) quanto as instalações hidráulicas e elétricas do conjunto são coletivas, compartilhadas entre todos os moradores. Já as divisórias internas e paredes externas são resolvidas e determinadas pelo próprio usuário, dando a liberdade de escolha para quem realmente irá usufruir do espaço. Outro estudo com o mesmo foco é a “teoria dos padrões”, desenvolvida pelo norte-americano Christopher Alexander em seu livro “Uma Linguagem dos Padrões”, onde ele define 253 padrões dentro das categorias: “Cidade, Arquitetura e Construção”. Com essa teoria Alexander permite que os padrões sejam combinados entre si e dessa forma aplicados a necessidade do usuário. Não existe algo predefinido, o usuário interpreta, relaciona e aplica-os como bem entender.
ResponderExcluirAlém de Habraken e Alexander, temos as teorias de Cedric Price, Herman Hertzberger, Archigram, John Turner entre outros que dedicaram seus trabalhos a transfigurar o conceito de “padrão” e assim, extrair das estruturas padronizadas um novo modo de se construir habitação, um novo modo de se morar e além, um novo modo de se entender arquitetura.
Este link tem algumas referências das teorias faladas acima: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/10_arquitetos/quadro.htm
Com certeza esse é um tema que divide opiniões, muitas vezes completamente divergentes,e outras em partes. Entendo o ponto de vista de cada um, ambos os três arquitetos trouxeram bons argumentos e fundamentos para suas opiniões, e não há verdade absoluta diante do assunto, já que é uma questão muito pessoal. Concordo com aquele que diz: talvez. Pois acho que é possível sim que um projeto padrão seja bom, PORÉM, é preciso que haja certa flexibilidade, que não seja um produto pronto e imutável, pois esse é o maior erro dos projetos padrões. A mobilidade, a possibilidade da intervenção, reformas, flexibilidade de ambientes, tira um pouco o peso da padronagem e permite que cada morador ou família adapte sua moradia de acordo com suas necessidades e gostos. Enfim, é um tema polêmico, e muito importante de ser discutido, para tentar achar uma solução que permita aos usuários um bom conforto e adaptação.
ResponderExcluirQuando se trata de "projeto padrão" como no caso do Programa Minha Casa Minha Vida acredito que este seja falho em praticamente todos os casos. A problemática vai além da falta de flexibilidade devido a metragem restrita. A ventilação é comprometida devido ao tamanho das esquadrias, o pé direito normalmente tem 2,60 m de altura dentre outros problemas facilmente reconhecidos sem mesmo entrar na edificação. A Caixa Econômica Federal, que é quem financia essas edificações voltadas para a população de baixa renda em sua falha cartilha de especificações de projeto, já consegue limitar até mesmo a criatividade dos Arquitetos. Tudo já vem preestabelecido e o profissional fica engessado a sempre reproduzir moradias ruins. Vale ressaltar que o fato de se ter um orçamento pequeno para executar um projeto não quer dizer que o mesmo tenha que ser de baixa qualidade e cabe a CEF repensar esse parâmetros.
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