A Requalificação do Complexo de Manguinhos: Políticas públicas, uma arquitetura engajada e um megaprojeto.
Em
2007, o então presidente Lula ao lado da ministra-chefe Dilma Rousseff anunciaram
o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – uma ação do governo federal no
intuito de criar um conjunto de políticas econômicas que possibilitem obras de
melhoria da qualidade de vida em regiões pontuais das cidades. O Projeto de
requalificação urbana do Complexo de Manguinhos, assim como do Complexo do
Alemão e da Rocinha, foi uma obra contemplada por essa iniciativa.
O
Complexo de Manguinhos é um conjunto de 15 comunidades na Zona Norte do Rio de
Janeiro. Com uma população estimada em 40 mil habitantes o aglomerado de
moradias precárias compunha o cenário das crescentes favelas marcadas pelo tráfico
e violência. A região clamava por melhorias básicas e o poder público, não
podendo mais cegar-se à situação, atendeu aos clamores e
criou um projeto de transformação social.
O
projeto do arquiteto argentino Jorge Mario Jáuregui (responsável também pelas recentes
obras, do ainda maior, Complexo do Alemão) incorpora a preocupação por
transformar sócio espacialmente a vida das comunidades através de um design
urbano inovador e inclusivo. Nas ideias do projeto destacam-se três focos de
urgência e demanda: 1-integração das comunidade ao resto da Zona Norte; 2-criação
de lugares públicos, infraestrutura urbana, equipamentos comunitários e novas
unidades habitacionais; 3- surgimento de uma nova centralidade de serviços de
qualidade e oportunidades na cidade.
Primeiramente,
a proposta era elevar a linha férrea existente e retirar o muro que segregava
Manguinhos do resto da Zona Norte. Para isso, o arquiteto se inspirou nas
Ramblas de Barcelona – largas ruas para pedestres onde há atividade de
comércios, serviços e intenso movimento – para criar uma estrutura elevada suportada
por pórticos robustos de concreto armado, sob o qual criou-se um extenso parque
linear. A nova linha férrea teria 2km de extensão, ligaria dois pontos
importantes da região, contaria com uma Estação Intermodal modernizada e
grandes áreas de lazer, comércio, serviços e esporte. Mas, a elevação da linha
é apenas uma parte do projeto.
No
projeto também foi pensado um grande Centro Cívico, localizado em um grande
terreno adjacente à linha férrea. Neste grande espaço existiriam 8 equipamentos
comunitários: Ginásio/Parque Aquático, Biblioteca Parque, Centro de Referência
da Juventude, Centro de Apoio Jurídico, UPA, Centro de Geração de Renda, Escola
de Ensino Médio e a Casa da Mulher. Entre os prédios haveriam praças,
brinquedos para crianças, áreas arborizadas e abertas à cidade. A Biblioteca
Parque foi instalada no antigo prédio do exército. A obra conta com todos
equipamentos de acessibilidade para portadores de necessidades especiais e um
grande volume de livros. Mas calma, o projeto ainda não acaba aí.
Além
da elevação da linha férrea e da criação de amplo Centro Cívico as comunidades
contariam com mais de 2000 novas unidades habitacionais. Prédios de
apartamentos e conjuntos de casas geminadas modernas. Entre os blocos de
moradia haveriam espaços de convívio, praças, pequenos parques e áreas
permeáveis por todo conjunto. Os prédios padronizados se diferenciariam através
das paredes coloridas.
O
projeto está inserido no Programa Favela-Bairro desenvolvido pelo município com
o objetivo de requalificar as favelas e, através de obras e melhorias, conferir
uma nova imagem ao cenário das ocupações irregulares. Neste conjunto de obras
574 milhões de reais foram investidos – parte pelo Governo Federal e outra pelo
Governo Municipal, sem dependência de capital privado - e realmente as obras
saíram do papel! As transformações abrangem 400 km² da região e estima-se
atingir 50 mil habitantes. As obras geraram trabalho e renda para os moradores
e gerarão ainda mais conforme a instalação de comércios e serviços for acontecendo.
Grande parte dos moradores em situação precária foram realocados nas novas
unidades habitacionais, com saneamento, esgoto e iluminação de qualidade. A
criação do Centro Cívico, os novos serviços e oportunidades oferecidos, as
amplas áreas de lazer e esporte fazem com que o Complexo de Manguinhos se
configure hoje como uma nova centralidade da cidade do Rio de Janeiro.
Em
2011, o Projeto de Jaurégui para Manginhos foi considerado pelo Museu de Arte
Moderna de Nova Iorque (MOMA) um dos 11 projetos internacionais de grande
influência sobre a produção arquitetônica/urbanística contemporânea. Na
exposição Small Scale, Big Change: New
Architectures of Social Engagement (“Pequena
Escala Grandes Mudanças: novas arquiteturas de engajamento social”) o
projeto é colocado como um modelo de revitalização urbana a ser seguido,
reconhecendo a preocupação econômica, sócio espacial, cultural e de bem-estar
social aliado às inovações no campo do design urbano. Hoje Complexo de
Manguinhos talvez seja um exemplo de como as políticas sociais governamentais
junto a uma arquitetura engajada e criativa têm sim, o poder de transformar a
realidade contraditória de nossas grandes cidades.
Referências:
O Projeto em
detalhes:
http://www.jauregui.arq.br/broken_city.html
http://www.jauregui.arq.br/broken_city.html
Vídeo da
execução das obras e depoimentos:
https://www.youtube.com/watch?v=KuGkvV0O1_0
https://www.youtube.com/watch?v=KuGkvV0O1_0
Documentário
antes das obras:
https://www.youtube.com/watch?v=aqRpGxMHM6s
https://www.youtube.com/watch?v=aqRpGxMHM6s
O projeto no
MOMA: http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2010/smallscalebigchange/projects/manguinhos_complex
Dados e
informações pela Governo:
http://www.rj.gov.br/web/informacaopublica/exibeconteudo?article-id=1036918
http://www.rj.gov.br/web/informacaopublica/exibeconteudo?article-id=1036918
Outras obras
do PAC:
http://www0.rio.rj.gov.br/habitacao/pac.htm
http://www0.rio.rj.gov.br/habitacao/pac.htm
Grupo: Daniela Laender, Karla Sabino, João Baldan e Nicholas Abdalla
Existem arquitetos trabalhando nessa linha e fazendo coisas interessantes.
ResponderExcluirAos poucos, sabiamente, arquitetos como os do estúdio “RUA, comandado pelos arquitetos, Pedro Évora e Pedro Rivera, a arquitetura contemporânea brasileira para um novo ciclo.
Na tentativa de explorar as potencialidades sociais e econômicas, desenvolvem um novo jeito de fazer arquitetura incentivando o microurbanismo bem localizado e atuações em locais chave para um processo cada vez mais de caráter educativo e ao mesmo tempo promissor. Pois são projetos que trazem com eles grande bagagem conceitual e histórica porém é mais atrelada à uma essência mais orgânica nascida de necessidades particulares de cada brasileiro.
O projeto do escritório “Rua”, com isso dá um salto para uma nova trajetória, não mais a massificação moderna, nem tampouco a individualização pós moderna. Mas uma valorização do individuo quando inserido em ambiente coletivo.
Eis alguns projetos de Pedro Évora e Pedro Rivera:
http://www.rualab.com/portfolio/60,87
http://www.rualab.com/portfolio/60,3092
Quando me deparo com esse tema penso em duas coisas: no que porque essas comunidades surgiram e até que ponto é possivel fornecer infra estrutura para elas. Com parte da população marginalizada do centro das cidades iniciaram -se essas construções que com o passar do tempo tomaram força e uma proporção gigantesca a ponto de se tornarem o maior problema de violencia em cidades como o Rio de Janeiro. É ótimo programas como o PAC investirem nessas favelas que na Rocinha que, por exemplo, já conseguiram possibilitar parques e até mesmo uma piscina. Porém, ainda possuem esgoto a céu aberto o problema mais grave: as encostas, sendo necessária sua conteção.
ResponderExcluirO governo precisa voltar seus olhos para as comunidades carentes e reconhecer que são um problema de todos. Porém, sendo sua criação já iniciada em local indevido sem um estudo apropriado, essas comunidades correm muitos riscos que ameaçam seus moradores e a solução para um problema desse grau seria a relocação desses moradores, o que não é feito por demandar muito dinheiro.
As favelas durante muito tempo sofreram com o descaso, mas hoje essa realidade aos poucos começa a mudar. Programas como esse e a atenção de arquitetos e urbanismos para esses locais é ótimo, pois não podemos esquecer que a população que vive nas favelas faz a cidade funcionar. Ela acorda cedo,dirige o transporte público, trabalha nas obras, atende clientes, limpa as casas; E além disso, constroem suas casas com as próprias mãos, unem forças por meio de associações, e estão sempre em luta para melhoria da qualidade de vida de seus moradores.