A moradia contemporânea no Brasil
Com base no
textos “Morar Brasileiro - Impressões e
nexos atuais da casa e do espaço doméstico”de Eduardo Pierrotti Rossetti podemos
iniciar uma análise de como se dá a produção das habitações brasileiras
atualmente, levando em consideração as necessidades e anseios dos seus
moradores.
Essa análise
se faz cada vez mais necessária, uma vez que o assunto “casa”é cada dia mais
discutido e difundido na sociedade atual por meio de diversas mídias, como as
populares revistas que se dedicam a tratar sobre arquitetura, paisagismo e
decoração; e agora mais recentemente deve-se também atribuir a popularização do
tema aos programas de TV e aos diversos sites e blogs na internet que da mesma
forma são instrumentos de acesso à informações tanto por profissionais quanto
por leigos.
De posse desse
montante de informações podemos então perceber as modificações do espaço
domiciliar no decorrer do tempo, pois o mesmo foi se adequando às novas
necessidades e vontades do brasileiro. Atualmente, a vida no espaço individual
da sua própria residência se sobrepõe à vida em ambientes públicos, à relação
das pessoas com a cidade. Serviços antes compartilhados passam a ser inseridos
na vida domiciliar, como por exemplo os espaços fitness ou varandas gourmets como formas de substituir academias e
restaurantes. Essa particularização de atividades antes coletivas, gera espaços
que além de serem símbolos de status
social interferem na relação das pessoas com a cidade, pois ela deixa de ser um
espaço de socialização para que as residências e condomínios tomem essa função
para si.
Há também a questão dos materiais e técnicas
construtivas empregadas na construção dessas novas moradias, sendo possível um
questionamento sobre uma possível volta às referências modernistas e/ou
brutalistas pela larga utilização do concreto armado, do vidro e do aço. Além
de alguns valores estéticos e espaciais que se encontram novamente valorizados,
como ambientes amplos com esquadrias propiciando tanto uma iluminação quanto
uma ventilação mais eficientes em volumetrias prismáticas e quase minimalistas.
Tendo em vista
este panorama da moradia brasileira atual e sua relação com a cidade, surgem
questionamentos sobre as consequências dessa particularização de atividades e
sobre a interferência estética das novas construções na paisagem urbana.
Link relacionados:
Grupo: Clarisse Chades, Hudson Ferreira, Ludmilla Oliveira, Nathália Gomes
A particularização das atividades é tema um interessante. Tendo-se em mente a segurança e conforto, à não muito tempo atrás, as pessoas começaram a fechar as atividades públicas em conjuntos habitacionais, residenciais, e condomínios. Áreas comuns foram ampliadas, serviços passaram a ser oferecidos e, dependendo da dimensão do lugar, quase se pode dizer que se configuraram pequenas cidades dentro desses espaços: comércio, serviços, atendimento bancário, lazer e outros, todos dentro do espaço de um condomínio.
ResponderExcluirAtualmente, também como consequência da necessidade de segurança, mas talvez mais por uma necessidade oriunda dos hábitos individuais tão ressaltados ultimamente, ou mesmo na tentativa de obtenção de status, surgem espaços, em sua raiz tipicamente coletivos, dentro do ambiente residencial. As pessoas se fecham cada vez mais dentro do espaço residencial, de certa forma abandonando o ambiente social, coletivo.
Em contrapartida, surge uma nova tendência nas cidades com a revitalização de espaços coletivos como praças e centros públicos e reorganização do espaço urbano, trazendo um novo panorama: as pessoas estão voltando a ocupar o espaço público das cidades. A tendência à adoção de posturas mais saudáveis da denominada “geração saúde” e a busca por melhor qualidade de vida aumentam o número de eventos coletivos, corridas, competições, áreas de ciclistas, pistas de skate, áreas de entretenimento, etc.
Apesar de esse tipo de iniciativa ser incipiente, estamos em um momento crucial de inversão das dinâmicas urbanas, passando de famílias e indivíduos completamente fechados no espaço residencial à ocupação dos ambientes coletivos e participação da vida em comunidade.
Pensar sobre como as moradias que estão sendo feitas no Brasil atualmente, é questionar que tipo de interação social propõe-se quando o individualismo se torna peça chave na concepção da cidade. Hoje em dia, pode-se dizer que a grande produção massificada de casas, idealizada e executada por grandes empresas, ou por grandes nomes, ou por pessoas que buscam esse patamar de reconhecimento, apenas reiteram o status quo desse espaço individualizado, onde as casas são construídas de costas para a rua. Os olhos da cidade, que segundo Jane Jacobs são essenciais para assegurar a utilização do espaço coletivo ou público, passam a se voltar para dentro de casa, para a sua posse e sua propriedade e as câmeras colocadas, agora substituem o pedestre que, cercado por carros e sem possibilidade de se locomover livremente a não ser que faça uso do mesmo , cria e recria suas necessidades antes atendidas pelo espaço compartilhado, em seu lar. Há de salientar que o movimento que vem crescendo nos grandes centros urbanos brasileiros dentro dessa especulação imobiliária cruel, passa a ser exemplo para aqueles centros que querem se desenvolver, criando um ciclo onde massas individualistas, sufocando os indivíduos e seus desejos (muitos perfeitamente coletivizados ), confluem para um condomínio e movimentam-se em prol das figuras “belíssimas”, sorridentes e “autossuficientes” dos cartazes de condomínio vendendo pequenos pedaços de “paraíso” dentro de um contexto que muitas vezes não é levado em consideração. Enfim, esse imediatismo promovido pelos serviços atuais, o sedentarismo, e o a vontade de ser “casa cor” promovem um pensamento padrão sobre os espaços domésticos e esses são voltados para os produtos vendidos, para a manutenção do status, individualismo, e comodismo.
ResponderExcluirCompreendo a nova necessidade atual de incluir em sua residência espaços que antes eram tidos como públicos. Essa prática se amplia a condomínios residenciais que foram se popularizando e atualmente, tem sido visto como uma questão de valor para sociedade. É como se criassem pequenas cidades, fechadas por muros e monitoradas como o "o show de Truman". Porém, classifico como uma negação a uma cultura colonial que ainda deixa vestígios em nosso país. Generalizando o pensamento, seria como se houvesse uma necessidade de posse em um ambiente que não é de extrema importância no trato diário. Vejo essa postura de particularizar espaços de práticas coletivas como um consumismo, muitas vezes sem sentido. Pois, as construções estão cada vezes menores em metros quadrados e mais verticalizadas. E há quem ainda valorize esses espaços em detrimento de um mais intimista e confortável pelo status de "ter" algo que poucas vezes se faz uso.
ResponderExcluirCom uma rotina de cidade grande, o lar passa a ser um refúgio de descanso. Pequena parte do dia é utilizado, quando não o fazemos como pernoite. Minha opinião é contra esse tipo de construção em grandes cidades, por elas possuem infraestrutura para essa população. Creio ser a proposta da boa utilização dos espaços públicos uma solução mais viável, visto o que ocorre em parques e espaços coletivos europeus. Se pudesse comparar essa atual prática, me identificaria com as bicicletas ergométricas dos anos 2000. Todas que conheci, terminaram em um espaço residual das residencias, servindo de apoio ou cabide, sem cumprir sua verdadeira função.
Deve-se ter claro que a moradia é o local que todos nós temos de mais intimo, onde apenas aqueles que nós permitimos podem adentrar. Pensando sobre esse aspécto: é um local carregado de valores e personalidade que nos compõe e sabendo que o inconsiente coletivo existe e que nós muitas vezes somos movidos por ele, não é estranho perceber uma nova forma de se fazer arquitetura em nosso país, uma arquitetura “Casa Cor” que muitas vezes busca sua inspiração no modernismo.
ResponderExcluirPorém muito além dessas moradias projetas para classe média-alta, existem as moradias que são ainda feitas de maneira “venacular”, com a utilização de uma parte do significado da palavra, onde o arquiteto nem ao menos é cojitado a ser contatado. Ao contrário das casas populares financiadas pela CAIXA, o arquiteto ainda é pouco requisitado para projetar moradias no Brasil, principalmente em cidades menores, uma questão cultural que talvez tenha em seu maior embazamento a “elitização arquitetônica” encontrada nas revistas e sites que difundem a arquitetura em nosso país.
É importante percebermos que o arquiteto ainda hoje é visto como um profissional da elite e que as casas contemporâneas brasileiras são em sua grande maioria projetadas pelos próprios moradores, adquirindo assim, problemas de insolação, ventilação e privacidade. Muito mais que casas envidraçadas, feitas em concreto ou qualquer novo tipo de tecnologia; mais que os espaços antes públicos que são trazidos para dentro das residências com o almejo de status, possuímos uma moradia contemporânia brasileira de baixa qualidade arquitetônica e com muitos problemas impensados devido a forma de concepção dos projetos.
Nas sociedades contemporâneas, em geral lidamos com uma inversão das relações entre o público e o privado. Enquanto no mundo antigo, particularmente na Grécia Antiga, o espaço público era um lugar de legitimação da cidadania e este tinha importância fundamental, no mundo atual, há uma busca pela reclusão, pelo fechamento das famílias e das pessoas em espaços particulares. Esta inversão existe pela própria competitividade latente da economia capitalista. Também existe pela noção de propriedade como direito e como único meio de usufruir realmente de um espaço. Há, por outro lado, também a tentativa de requalificação de espaços públicos em lugares como a Europa, que ensaia uma revalorização dos espaços públicos em relação aos privados. As práticas esportivas e a busca pela boa forma contribuem para a criação de espaços que estimulam as relações sociais. Na maioria dos casos, porém, as construções de moradias buscam suprir espaços que sustentem a vida em casa, reclusa, longe dos perigos do mundo, da criminalidade e a falta de interação intensifica ainda mais o distanciamento social. Talvez a parte de cabe a arquitetos e urbanistas seja a criação de espaços que estimulem uma reaproximação entre as pessoas, o que é natural e saldável, portanto, deve ser um objetivo na hora de projetar espaços publicos
ResponderExcluirQuando pensamos no modo contemporâneo de se morar e viver logo constatamos que cada vez mais valorizamos a vida íntima privada e concomitantemente distanciamo-nos da vida na rua, onde não somos diferenciados dos demais, sendo apenas mais um na multidão da cidade.
ResponderExcluirComo resultado desse fenômeno percebe-se que a casa, conforme a mutação da História e a passagem dos tempos, vem agregando cada vez mais funções em seu interior. A casa de hoje não é a mesma do século XIX, poucas coisas coincidem. Da mesma forma o espaço público, a rua por assim dizer, vem sendo esquecida como espaço para a vida e convivência, no qual realizamos diversas atividades e somos totalmente dependentes.
Com a ideia, cada vez mais aceita atualmente, de que “a rua não é de ninguém” o sentimento de pertencimento e reconhecimento do espaço público passa a não existir. Nessa perspectiva a rua se caracteriza apenas como um espaço de transição entre casa e trabalho. Múltiplos fatores contribuem para essa mudança no panorama da vida cotidiana: a cultura não é a mesma que antes, novos hábitos e costumes emergem numa sociedade cada vez mais acelerada, tecnológica e impessoal. A sociedade brasileira diferenciada por classe alta, média e baixa (ou “ralé”, segundo o sociólogo Jesse Souza) não se enquadra em um mesmo modo de morar ou de se apropriar do espaço público, existem os privilegiados. A indústria provê e limita os matérias de construção viáveis a serem usados em cada tipo de obra. O mercado imobiliário condiciona os lugares da cidade, valorizando abstratamente algumas regiões, desvalorizando outras, produzindo assim a exclusão de uma parcela da sociedade em detrimento do capitalismo financeiro (gentrificação). A violência urbana faz com que cada vez mais aumente o medo e o afastamento da rua. A população se reprime e não se sente segura o suficiente para dar um passeio na praça ou sair por ai admirando as belezas escondidas na cidade.
Porém, é de extrema importância temos em mente que vivemos nessas duas dimensões da vida cotidiana: o público e o privado. Não podemos descartar a rua como espaço essencial à nosso bem-estar. Temos que admitir que tudo aquilo que aprendemos em casa, com a família, ou seja, todas as precondições morais, afetivas, econômicas e sociais que recebemos da vida íntima influencia em nosso modo de agir na rua. Não há como dissociar as duas esferas. Elas se complementam mesmo emaranhadas em sentimentos contrários.
Uma característica comum de quase todas as cidades – independentemente da localização, economia e grau de desenvolvimento – é que as pessoas que ainda utilizam o espaço da cidade em grande número são cada vez mais maltratadas. Espaço limitado, obstáculos, ruído, poluição, risco de acidentes e condições geralmente vergonhosas são comuns para os habitantes, na maioria das cidades. Daí surge o problema dos edifícios autossuficientes que atendem quem quer fugir desse desconforto. Entretanto acredito que há dúvidas sobre a dinamização desse tipo de moradia atualmente. Mesmo que o mercado imobiliário ainda invista nesse tipo de edificação, já é evidente que retirar as pessoas dos espaços públicos ou não dar condições para que elas o ocupem é um problema.
ResponderExcluirA inclusão de ambientes, inicialmente pensados para socialização nas residências contemporâneas estimula a segregação urbana uma vez que os espaços públicos não mais se prestam à sua finalidade, pois as pessoas cada vez mais se enclausuram em suas casas, que estão dotadas de uma gama cada vez mais expressiva de funcionalidades que antes se encontravam apenas em recintos coletivos.
ResponderExcluirA principal justificativa reside no medo da violência crescente e pulsante nos grandes centros urbanos. Em busca de segurança os indivíduos dotam suas residências com todo tipo de parafernalhas para se protegerem dos perigos advindos das ruas, enclausurando-se atrás de muros e cercas elétricas.
O distanciamento das ruas e a disponibilidade de opções variadas de diversão e serviços na própria casa torna os espaços públicos cada vez mais inóspitos e as possibilidades de socialização se restringem. As pessoas não se sentem parte integrante e ativa da cidade, deixando-a para aqueles que não podem pagar pelos "privilégios" da privatização de serviços e espaços de natureza coletiva.
Na maioria dos casos os ambientes projetados para proporcionar maior comodidade e versatilidade domésticas aos seus moradores acabam sendo subutilizados, servindo apenas para ostentar o poder aquisitivo de uma minoria.
Não é exagero afirmar que os encontros espontâneos em lugares que congreguem pessoas de diferentes classes sociais, favorece a democracia do uso de determinados espaços públicos ao passo que contribui para uma sociedade mais harmoniosa.
A partir da leitura acima, pude concluir que a individualização de espaços que antes eram coletivos, trata-se de uma mudança comportamental de uma sociedade que torna-se cada vez mais virtual e individualista em suas ações. Se antes as pessoas buscavam residências onde pudessem abrigar boa parte dos seus entes, hoje temos residências menores e com multiplas funções. Atualmente valorizamos agrupar nossas necessidade, e as vezes ate os superfulos ao nosso facil alcance, devido ao intenso cotidiano que encaramos em nosso trabalho, estudo e meios de locomoção. Precisamos que tudo seja mais rápido, e presamos cada vez mais pela privacidade dos ambientes, mesmo que seja para divulga-los nas redes sociais como condição de status.
ResponderExcluirNesse tema particularmente gostei da parte que trata sobre a "internalização" de certas atividades, como a academia e varandas gourmet, cada vez mais utilizadas em residencias e condomínios no lugar de espaços urbanos sociais como restaurantes e academias como serviço. A partir disso, comecei a pensar também na influencia da tecnologia em outros aspectos, por exemplo, temos o hábito cada vez maior de fazer compras pela internet, o que nos priva do contato externo com espaços como lojas, supermercados, shoppings, e outros. Ao mesmo tempo isso nos traz a segurança de estar em casa e a praticidade e poupança de tempo, para as pessoas que vivem ocupadas. Isso impacta na arquitetura de forma a necessitarmos de espaços confortáveis e ergonônicos. Muitas vezes também se utiliza ter escritórios e bibliotecas dentro das residências, e cada um desses espaços que antes eram "públicos" sendo individualizados, trazem consigo um nível de status e privilégio.
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